Um estudo publicado em 16 de outubro de 2025 revelou que as formigas, ao enfrentarem ameaças de doenças, modificam de forma ativa a arquitetura de seus ninhos para proteger a colônia. Muito antes de a pandemia da COVID-19 transformar o planeta e levar os indivíduos a reorganizar seus espaços com distanciamento e novas rotinas, esses insetos já utilizavam estratégias de afastamento para conter a propagação de patógenos.
“Já sabemos que as formigas alteram seu comportamento de escavação em resposta a outros fatores do solo, como temperatura e composição. Esta é a primeira vez que um animal não humano demonstra modificar a estrutura de seu ambiente para reduzir a transmissão de doenças”, disse Luke Leckie, o principal autor do estudo em comunicado ao Eurek Alert.
A arquitetura da sobrevivência coletiva
A pesquisa, publicada na revista Science, utilizou tecnologia avançada para observar como colônias expostas a um fungo patogênico construíam seus ninhos em comparação com colônias saudáveis. Usando microtomografia computadorizada (micro-CT), uma técnica de escaneamento 3D, os cientistas puderam visualizar o interior complexo dos ninhos.
Os ninhos construídos por colônias expostas a doenças apresentavam características distintas:
- Entradas mais amplas: Facilitando a ventilação e possivelmente alterando o fluxo de indivíduos.
- Maior espaçamento entre câmaras: As diferentes “salas” do ninho eram mais separadas umas das outras.
- Menos conexões diretas: A rede de túneis foi simplificada, com menos caminhos diretos ligando as câmaras, criando uma espécie de compartimentalização.
Essas alterações não são aleatórias. Elas criam uma estrutura que naturalmente dificulta a rápida disseminação de esporos de fungos ou outros agentes infecciosos por toda a colônia.

Imunidade social e autoisolamento
As formigas já são conhecidas por suas complexas estratégias de “imunidade social”. Elas praticam comportamentos que protegem o grupo como um todo, desde a limpeza de companheiras infectadas até a aplicação de veneno com propriedades desinfetantes. Uma das táticas mais eficazes é o autoisolamento: indivíduos doentes se afastam voluntariamente para evitar contaminar os demais, especialmente os mais vulneráveis, como a rainha e as larvas.
O estudo levou essa compreensão a um novo patamar. Ao realizar simulações de propagação de doenças nos modelos 3D dos ninhos, os pesquisadores descobriram algo surpreendente: o efeito do autoisolamento era ainda mais potente nos ninhos modificados. A combinação da arquitetura defensiva com o comportamento individual de isolamento criou uma barreira de proteção robusta, reduzindo o risco de exposição a doses letais do patógeno.
O experimento em detalhes
Para chegar a essas conclusões, a equipe de pesquisa montou um experimento controlado. Dois grupos de formigas operárias foram colocados em recipientes com terra para cavar seus ninhos. Após 24 horas, um dos grupos recebeu indivíduos adicionais que haviam sido expostos a esporos de um fungo. Os cientistas então monitoraram a construção dos ninhos por mais seis dias, realizando escaneamentos periódicos.
As simulações mostraram que a nova arquitetura protegia eficientemente os compartimentos mais importantes, como os que armazenam alimentos e abrigam os filhotes. A estrutura mais “descentralizada” funcionava como um sistema de contenção, impedindo que um surto localizado se transformasse em uma epidemia em toda a colônia.
“Uma das nossas descobertas mais surpreendentes foi que, quando incluímos o autoisolamento das formigas nas simulações, o efeito do autoisolamento na redução da transmissão de doenças foi ainda mais forte nos ninhos expostos a germes do que nos ninhos de controle', disse Luke.
Lições dos formigueiros para os seres humanos
As descobertas apresentadas pelos pesquisadores oferecem uma análise precisa sobre métodos de gestão de espaços em sociedades organizadas. Assim como nos formigueiros, as cidades humanas são estruturadas em redes complexas, formadas por múltiplas camadas de circulação e interação social.
A manutenção dessas redes exige um equilíbrio delicado entre a eficiência no deslocamento de pessoas, o transporte de bens, o fluxo de informações e a adoção de estratégias sanitárias voltadas à prevenção da disseminação de doenças.
O estudo indica que esse tipo de organização espacial pode servir de referência para futuras abordagens humanas no planejamento de ambientes urbanos, considerando o aumento da ameaça de epidemias.
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