Um informe nº 098 do programa Bolsa Família, de 19 de novembro de 2025 publicado pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), revela uma disparidade de renda no Brasil: mulheres negras chefes de família e beneficiárias do programa enfrentam uma vulnerabilidade econômica acentuada, com rendimentos que podem ser até 5 vezes inferiores aos de mulheres brancas na mesma condição.
Os dados do IBGE revelam que 12,8% dos domicílios chefiados por mulheres negras não têm rendimento e 22,5% vivem com até 1/4 do salário mínimo, contra 5,7% e 11,1% das mulheres brancas respectivamente.
Segundo o Relatório Socioeconômico da Mulher de 2025 (RASEM), a feminização da pobreza no Brasil é marcada por desigualdades raciais.
O perfil das beneficiárias do Bolsa Família
De acordo com o informe, o programa Bolsa Família atende cerca de 18 milhões de famílias no Brasil em 2025, com as mulheres representando 58,60 % do público total. No programa, 83,9% das responsáveis familiares são mulheres, sendo aproximadamente 73% delas mulheres negras (pretas e pardas).
O programa reconhece essas mulheres como pilares das famílias brasileiras e atua diretamente para mitigar as vulnerabilidades que recaem sobre elas.
Imagem: Notícias Concursos
Desigualdades estruturais no mercado de trabalho
Segundo o RASEM 2025, a inserção das mulheres negras no mercado de trabalho é marcada por maior informalidade (41%) em comparação às mulheres brancas (31,7%). No trabalho doméstico, um setor tradicionalmente ocupado por mulheres negras, 73,4% trabalham sem carteira assinada.
Além disso, as mulheres dedicam quase o dobro da média de horas semanais que os homens às tarefas de cuidado e afazeres domésticos, o que impacta diretamente suas possibilidades de inserção no mercado formal e obtenção de melhores rendimentos.
Violência doméstica e vulnerabilidades adicionais
A vulnerabilidade das mulheres negras não se limita à questão econômica. Em 2023, foram registradas 302.856 notificações de violência doméstica, sexual e outras formas de violência contra mulheres. Dos registros de violência contra mulheres adultas (20 a 59 anos), 60,4% foram contra mulheres pretas e pardas.
A Lei Maria da Penha define a violência doméstica e familiar contra a mulher como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. Em 2023, 71,6% das notificações de violência contra mulheres ocorreram dentro de casa.
O informe destaca que esses dados ressaltam a urgência de políticas públicas intersetoriais e focadas, que integrem questões como renda, acolhimento, proteção e a construção de redes de apoio, áreas em que o Programa Bolsa Família desempenha um papel fundamental.
Bolsa Família como instrumento de proteção social
O desenho do programa reconhece a feminização da pobreza, direcionando o pagamento do benefício preferencialmente à mulher. Em 2023, aproximadamente 73% das responsáveis familiares do programa eram mulheres negras (pretas e pardas). Esse direcionamento fortalece o papel delas como pilares de suas famílias e gestoras dos recursos para saúde, educação e alimentação.
Como uma beneficiária de Contagem/MG relatou: “O Bolsa Família foi meu primeiro socorro para eu sair da situação em que estava.”
As condicionalidades no acompanhamento social
As condicionalidades do Programa Bolsa Família, como o acompanhamento da frequência escolar e da saúde de crianças e gestantes, funcionam como instrumentos para identificar vulnerabilidades e conectar as famílias à rede de proteção social. Assim, o benefício vai além do auxílio financeiro, atuando também como uma porta de entrada para o acesso a direitos e serviços públicos, ajudando a romper o ciclo intergeracional da pobreza.
Até novembro de 2025, o Sistema de Condicionalidades (SICON) registrou que 87,88% das meninas de 4 a 17 anos beneficiárias do Programa tiveram sua frequência escolar monitorada. Ao todo, foram acompanhadas 7.704.912 meninas, de um total de 8.767.697 em idade escolar, sendo 5.404.250 (87,41%) meninas negras, pretas ou pardas.
No primeiro semestre de 2025, o número de gestantes a serem acompanhadas era de 24.921.154, com uma taxa de acompanhamento de 88,89%. Dessas, 72% (17.950.973) eram mulheres negras, pretas ou pardas.
De acordo com o informe, esse monitoramento possibilita a criação de políticas públicas direcionadas, especialmente por meio do Trabalho Social com Famílias e Territórios realizado pelo PAIF (Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família), para fortalecer as áreas que mais necessitam de atenção.
Para mais informações sobre o programa, confira no portal do Notícias Concursos.
Perguntas frequentes
Por que as mulheres negras são maioria no Bolsa Família?
Elas representam a maior parte da população em situação de pobreza e vulnerabilidade socioeconômica no Brasil, reflexo de desigualdades históricas de raça e gênero no acesso à renda e ao trabalho formal.
Como o programa ajuda a combater a violência doméstica?
Ao fornecer uma fonte de renda mínima, o benefício pode garantir a autonomia financeira necessária para que a mulher rompa um ciclo de violência, oferecendo segurança para ela e seus filhos.
O que são as condicionalidades do programa?
São compromissos assumidos pelas famílias nas áreas de saúde e educação, como manter a frequência escolar das crianças e o acompanhamento pré-natal das gestantes, para garantir o acesso a direitos básicos.
Qual o percentual de mulheres responsáveis pelo Bolsa Família?
As mulheres representam 83,9% das responsáveis familiares pelo benefício, sendo que cerca de 73% delas são mulheres negras (pretas e pardas).
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