O bilinguismo infantil é um fenômeno do desenvolvimento humano que tem sido amplamente estudado por pesquisadores. Crianças pequenas demonstram a capacidade de dominar múltiplos idiomas com facilidade, enquanto adultos frequentemente enfrentam dificuldades na mesma tarefa. Estudos nas áreas de neurociência e linguística têm desvendado os mecanismos cerebrais que explicam essa habilidade, mostrando que não se trata de um talento raro, mas de uma característica inerente ao cérebro em desenvolvimento.
A fase de oportunidade no cérebro infantil
Um estudo publicado no The Journal of Neuroscience revela que, entre os dois e quatro anos de idade, o cérebro atravessa um período de desenvolvimento intenso, tornando-se extremamente receptivo a experiências linguísticas. Durante essa fase, as conexões neuronais responsáveis por processar palavras estão em plena formação, o que torna o aprendizado mais orgânico.
A exposição a um ambiente com mais de um idioma antes dos quatro anos aumenta as chances de fluência em ambas as línguas. Isso ocorre devido à alta plasticidade cerebral, que permite que os idiomas compartilhem redes neurais. O resultado é uma troca entre línguas que parece natural e sem esforço, um processo que se torna mais complexo com o passar dos anos.
Como o cérebro bilíngue funciona?
Ao contrário do que se poderia pensar, o cérebro de uma pessoa bilíngue não separa os idiomas em “caixas” distintas. Esse processo é conhecido como coativação. Marcelo Rosa, linguista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica em uma publicação do jornal da Unesp que o cérebro de um bilíngue sempre ativa as duas línguas simultaneamente, seja para conversar ou para buscar uma palavra específica.
“Há um mecanismo de inibição da língua que eu não estou usando em favor da língua que eu estou usando”, afirma. Esse controle é realizado por áreas do córtex pré-frontal, que, embora ainda em desenvolvimento na infância, já operam com eficiência para essa tarefa.
Vantagens cognitivas do aprendizado precoce de idiomas

Imagem: Freepik
O bilinguismo desde cedo fortalece o cérebro e traz benefícios duradouros, sem comprometer o desenvolvimento. A alternância entre línguas melhora a concentração e estimula habilidades de análise e síntese, importantes para a resolução de problemas e compreensão de conceitos complexos. Além disso, o bilinguismo treina atenção, memória e flexibilidade cognitiva, criando uma reserva mental que se mantém ao longo da vida. A constante necessidade de se concentrar na língua correta melhora não só a capacidade de aprendizado, mas também o desempenho em tarefas que exigem atenção prolongada.
A mistura de idiomas é um processo natural
A visão de que a alternância entre línguas na criança bilíngue é uma “salada linguística” surge do uso de uma régua monolíngue para avaliar o bilinguismo. No entanto, essa alternância constante, longe de ser confusão ou mistura aleatória, é, na verdade, a interação complexa de dois sistemas linguísticos distintos. Juntos, esses sistemas formam um único repertório e podem ser ativados simultaneamente.
Fatores que influenciam o aprendizado de idiomas na infância
A ciência aponta que, até os oito meses, os bebês são capazes de perceber fonemas (sons) de diferentes idiomas. No entanto, conforme crescem, começam a se especializar na língua materna, o que torna mais difícil a comunicação em outras línguas. Essa capacidade inicial está relacionada à habilidade dos bebês de distinguir sons variados, o que favorece a aprendizagem de diferentes línguas. A grande vantagem das crianças é a rapidez com que conseguem adotar sotaques nativos.
Entre seis e 12 meses, os bebês começam a focar mais nos sons que ouvem com frequência. O processo de adaptação para as vogais começa por volta dos seis meses, enquanto as consoantes se ajustam mais perto dos dez meses. No entanto, estudos indicam que bebês de apenas quatro meses já estão desenvolvendo a compreensão de como os sons são produzidos fisicamente, mesmo antes desse processo de especialização começar.
Jovem leitora bilíngue no Brasil
Um exemplo é o de Catarina Rodrigues, uma menina paraense de apenas 3 anos que se tornou um fenômeno ao ler fluentemente em português e inglês desde os 2 anos. Desde bebê, ela demonstrava interesse por livros e sons, cantando músicas em inglês antes mesmo de dominar o português. Casos como o dela, embora excepcionais, ilustram o potencial do cérebro infantil para o aprendizado de idiomas.
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